sábado, 17 de janeiro de 2009

Sistemática dos seres vivos - Reinos da vida - Classificação de Whittaker

Evolução dos sistemas de classificação

Os sistemas de classificação podem ser entendidos como formas de organização de dados respeitantes aos seres vivos que se pretendem classificar. Esta organização depende de critérios que vão sendo revistos ao longo do tempo, o que torna transitórios os sistemas de classificação que reflectem a visão dos seus autores e da comunidade científica de dada altura.

Desde Aristóteles até meados do séc. XIX, os biólogos dividiram os seres vivos em dois reinos: Plantae e Animalia. Aristóteles considerou critérios como: unicelularidade ou pluricelularidade, fototrofismo, heterotrofismo, seres com ou sem locomoção. No entanto, esta classificação tinha algumas limitações como o facto das bactérias, euglenas e fungos estarem incluídos no Reino Plantae. Isto porque, há bactérias que não realizam fotossíntese; fungos que não são fotossintéticos e com parede celular de natureza não celulósica; e o facto das euglenas, apesar de fotossintéticas, terem locomoção como se vê no vídeo abaixo.

Com o avanço do microscópio, em 1866 o biólogo alemão Ernest Haeckel propôs um terceiro reino, o Reino Protista que incluía as bactérias, protozoários e fungos, cujas características não são nem de animais nem de vegetais.
Posteriormente, Herbert Copeland (1902-1968) introduziu um novo reino, o Reino Monera, considerando um novo critério: seres procariontes e eucariontes.
No entanto, a maioria dos biólogos, até meados do séc. XX, continuou a basear-se na classificação em dois reinos, ignorando as outras propostas.
Só na década de 60 do séc.XX, devido a conhecimentos obtidos por técnicas bioquímicas, e pela microscopia electrónica, a relação dos reinos dos seres vivos mudou, e em 1969 apareceu uma nova classificação dos seres vivos. O ecologista americano Robert H.Whittaker(foto) passou a incluir os seres vivos em cinco reinos, em que os fungos passam a constituir um reino independente, designado de Fungi. Este sistema de classificação era coerente, quer com o registo fóssil, quer com os dados moleculares mais recentes.

Sistema de classificação de Whittaker

Este sistema é o que tem encontrado maior receptividade. Desenvolvido em 1969, foi posteriormente modificado, sendo apresentado com essas alterações em 1979. A grande diferença entre estas duas versões refere-se à posição das algas. Inicialmente distribuídas entre os reinos Protista e Plantae, consoante fossem, respectivamente, unicelulares ou pluricelulares, foram colocadas no Reino Protista. No entanto, algumas algas são pluricelulares, apesar da sua simplicidade estrutural. O Reino Protista, por passar a incluir seres multicelulares de baixo grau de diferenciação celular leva muitos autores a sugerirem o nome de Protoctista para este reino.



São três os critérios em que se fundamenta a classificação em cinco reinos:
· Níveis de organização celular – considera o tipo de estrutura celular procariótica ou eucariótica, se há seres eucariontes unicelulares, coloniais ou multicelulares com baixo grau de diferenciação celular e seres multicelulares.
· Tipos de nutrição – processo de obtenção do alimento (autotrofismo, heterotrofismo por ingestão ou absorção).
· Interacções nos ecossistemas – distinguindo os seres produtores dos seres consumidores (macroconsumidores e microconsumidores que ao consumirem a matéria orgânica devolvem ao meio matéria inorgânica – decompositores ou saprófitas como fungos, bactérias, e alguns protistas).

O quadro seguinte refere as principais características dos cinco reinos do sistema de Whittaker modificado (1979).




Sistemas de classificação mais recentes

Sistemas de classificação posteriores vieram propor a criação de grupos superiores ao reino, designados por super-reinos ou domínios. Isto devido à comparação de novos dados, como os moleculares (sequências nucleotídicas, de genes ou de aminoácidos em proteínas), que inferem nas relações evolutivas.
A classificação em três domínios reconhece dois domínios incluindo organismos procariontes e apenas um domínio para os eucariontes. Ao Domínio Bacteria corresponde o Reino Eubacteria, ao Domínio Archaea corresponde o Reino Archaebacteria e ao domínio Eukarya correspondem os Reinos Protista, Fungi, Plantae e Animalia. Os protistas constituem um grupo muito diversificado, existindo sistematas que propõem a divisão deste grupo em vários reinos.
As sequências genéticas indicam que Archaea tem uma combinação de genes semelhantes a Bactéria e a Eukarya, estando mais relacionado com Eukarya do que com Bacteria.


Posso concluir que a classificação de organismos encontra-se num contínuo processo de mudança. É importante perceber que definir as categorias mais elevadas da classificação (domínios e reinos da vida) é um trabalho em progresso. Devemos, contudo, considerar os grupos taxonómicos e árvores filogenéticas "hipóteses" em que são usados dados disponíveis para traçar a árvore da vida.

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