domingo, 18 de janeiro de 2009

Artigo - Quantas espécies existem?

QUANTAS ESPÉCIES EXISTEM? Texto de B. Gallavotti

Cada expedição científica nas florestas tropicais (que, juntamente com as barreiras coralinas, são os ambientes mais ricos em espécies) termina com a descoberta de numerosas novas espécies animais ou vegetais, até então desconhecidas da ciência. Ninguém sabe ao certo qual o número de espécies existentes no nosso planeta. As estimativas apontam para um número entre 3 e 30 milhões. Por falta de um único arquivo central, desconhece-se inclusivamente o número das que foram até hoje descritas, que devem contudo situar-se entre 1,5 e 1,8 milhões. Milhares de novas espécies vêm juntar-se todos os anos às já conhecidas, sobretudo insectos, o grupo de animais mais abundante: até hoje foram catalogadas cerca de 950 000 espécies, mas calcula-se que o seu número deverá rondar os 2-3 milhões. Alguns investigadores observaram que uma só árvore da floresta amazónica pode albergar 163 tipos de coleópteros diferentes, especializados para viver exclusivamente na sua copa. Como se estima que os coleópteros representem 40% dos insectos, supõe-se que cada copa de árvore possa albergar cerca de 400 espécies destes animais. Para que servem tantas plantas e tantos animais? Segundo os cientistas, que chamam "diversidade biológica" a esta extraordinária riqueza da natureza, quanto maior for o número de organismos diferentes num determinado ambiente, ligados entre si por uma variedade de relações mais ou menos estreitas, mais "perfeito" será o seu funcionamento. Infelizmente, a intervenção do Homem em muitos ambientes naturais provoca a extinção de numerosas espécies, em muitos casos ainda desconhecidas.
in Gallavotti, B. 1997. Segredos da Vida. DoGi. Itália.

Notícia - Nascer sem doenças: Até onde pode e deve ir a Ciência?

Na edição nº828 da revista Visão encontra-se um artigo na secção Saúde acerca de famílias que recorreram à técnica do diagnóstico genético pré-implantatório (DGPI) para salvar os filhos de cancros mortais. Dado o tema da notícia, achei muito oportuno pôr aqui este artigo, embora com supressões.

Concebidos sem doença

Quebrar a corrente de transmissão da hemofilia ou de cancros hereditários está ao alcance da Ciência. Em Portugal, mais de 50 famílias já recorreram à genética, antes da gravidez, para salvar os filhos de patologias mortais.
Por Sara Sá

Pedro (…) Desde o nascimento que sofre de hemofilia, uma doença hereditária, causadora de deficiências a nível da coagulação do sangue. Esta alteração leva a que a mais pequena pancada se transforme numa hemorragia prolongada e numa inflamação severa e dolorosa, afectando as articulações. Associada ao cromossoma X, a doença atinge apenas os homens sendo a mãe a transmissora do gene alterado. Susana Reino, 36 anos, funcionária do Instituto de Meteorologia, e Humberto Barreto, 38 anos, director financeiro, os pais de Pedro, foram surpreendidos pelo diagnóstico, quando o menino tinha dois meses.
«Os primeiros dois anos de vida do Pedro foram muito complicados», conta Susana, que ignorava ser portadora do gene alterado. «Custa muito ver um filho sofrer.» Para o casal tornou-se claro que não voltariam a entrar na roleta-russa dos genes, arriscando uma probabilidade de 25% de virem a ter um rapaz doente e de 25% de terem uma rapariga portadora. «O Pedro queria muito ter um irmão, mas eu sabia que não iria pôr mais um filho no mundo com esta doença», assume Susana.
Foi então que se viraram para o admirável mundo novo da genética. No início da década de 90, surgiu uma técnica talhada para casos como o deles: o diagnóstico genético pré-implantatório (DGPI). Mediante um ciclo de fertilização in vitro, seguido de análise genética, seleccionam-se embriões saudáveis para a implantação no útero. São candidatos a este procedimento casais com suspeita de distúrbios cromossómicos, como trissomia 21, ou história familiar de doenças genéticas, como a fibrose quística ou a distrofia muscular. Há ainda casais que recorrem ao processo para terem um bebé compatível, a nível de medula, com um irmão, ou outro familiar, doente.


STOP AO CANCRO DA MAMA
No fim-de-semana passado, milhares de pessoas, no Reino Unido, encheram-se de esperança com o anúncio do nascimento de uma menina, livre de uma forma hereditária de cancro da mama que atingiu três gerações da família paterna. Os portadores do gene BRCA1 alterado apresentam uma probabilidade de 80% de virem a desenvolver uma forma de cancro da mama responsável por 5% a 10% dos casos totais. Teria ainda uma probabilidade de 60% de vir a ter cancro do ovário. (…) Além disso, os portadores desta mutação têm 50% de hipóteses de a passarem aos seus descendentes. Com a aplicação do DGPI quebrou-se a corrente da transmissão. «Mostrámos que esta técnica pode ser aplicada para parar o ciclo devastador da doença», afirma o médico inglês. A mãe da menina, que assistiu ao desenrolar da doença em todas as mulheres da família do marido, admitiu ao jornal Daily Telegraph que não seria capaz de olhar a filha de frente, caso não tivesse tentado a DGPI.
Apesar do entusiasmo britânico, esta não é uma estreia. (…) Também o Reproductive Genetics Institute, de Chicago, uma autêntica fábrica de fertilização in vitro, apresenta, na sua extensa lista de doenças testadas, a pesquisa do BRCA1 e do BRCA2, outro gene implicado numa forma hereditária de cancro da mama e dos ovários.
E o serviço de genética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que desenvolveu o protocolo de aplicação de DGPI em 1999, prepara-se, igualmente, para tentar seleccionar um embrião sem a mutação do BRCA2, recorrendo à colaboração com um centro em Bruxelas para análise genética. A unidade portuguesa já fez mais de 200 ciclos de fertilização in vitro, com vista à aplicação de DGPI, sendo que «os testes mais requisitados são os de triagem da Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF) [conhecida por doença dos pezinhos] ou a doença de Huntington», relata Filipa Carvalho, 39 anos, especialista da Universidade do Porto.

Susana e Humberto começaram por rumar ao Porto, quando Pedro tinha 4 anos. Na altura, para os casos de hemofilia, o processo baseava-se em selecção de sexo. Ou seja, eram escolhidos os embriões femininos, uma vez que, na pior das hipóteses, se trataria de um bebé portador da doença. (…) Foi então que decidiram procurar o Instituto Valenciano de Infertilidade, com uma lista de duas dezenas de doenças triadas, e que, para a hemofilia, se baseava na detecção do gene mutado. Todo o tratamento ficou em €10 500, inteiramente pagos pela ADSE. Quando Alexandre nasceu, Pedro sentiu que a família estava completa: «Finalmente, somos quatro!»

UNS PAGAM, OUTROS NÃO
Portugal é pioneiro na aplicação da DGPI à muito portuguesa doença dos pezinhos. (…) Mesmo assim, ainda há quem arrisque, quem não conheça as opções que a ciência oferece ou quem não tenha os mil euros necessários para a estimulação hormonal exigida num processo de fertilização in vitro.
«Nos casos em que a mulher é a portadora da doença e já apresenta sintomas, o casal não tem qualquer tipo de custos com a estimulação hormonal; quando é o homem o portador, o casal tem de pagar a medicação, pois, neste caso, a mulher não goza de isenção», denuncia o enfermeiro Carlos Figueiras, 56 anos, da Associação Portuguesa de Paramiloidose. As taxas de sucesso são à volta de 25%, o que implica que, «em média, os casais tenham de sujeitar-se a quatro ciclos de fertilização para conseguirem uma gravidez», conta Natália Oliveira, 34 anos, assistente social da Associação. «É comum o embrião doente ter maior vitalidade do que o saudável. Além disso, a própria biopsia do embrião, necessária à análise genética, pode interferir com a sua dinâmica», explica Alberto Barros, 51 anos, director do Serviço de Genética da Faculdade de Medicina do Porto.
Jorge Neto, 40 anos, viu a mãe morrer de paramiloidose e, desde os 18 anos, que sabe ser portador da doença. Nesta altura, decidiu que nunca teria filhos. Num congresso, ouviu falar da possibilidade de fazer uma DGPI e, com a mulher, decidiu candidatar-se. «Tivemos uma sorte extraordinária. Conseguimos uma gravidez à primeira tentativa e agora temos duas filhas lindas, de 3 anos», conta Jorge, que já se sujeitou, com sucesso, a um transplante hepático. «Depois de ter passado pelo processo, orientei mais de 20 casais para o DGPI.»
Ana (nome fictício), de 33 anos, advogada, não teve a mesma sorte. Só descobriu que era portadora da doença quando se manifestaram, na mãe, os primeiros sintomas. Nessa altura, já tinha tido um filho. (…)
Mesmo assim, Ana tentou aproximar-se do seu sonho de ter cinco filhos e submeteu-se a um DGPI. «Era um caso perfeito, diziam os médicos, porque sou jovem e fértil», conta. Mas não teve sorte. A implantação dos dois embriões resultou num aborto, difícil de superar. Por agora, virou-se para a adopção. «Conheço muitos doentes com PAF e alguns optam por ser pais de forma natural. As pessoas não vão deixar de ter filhos por causa desta doença.»
Aliás, a aplicação da técnica não é consensual e, de cada vez que se anuncia mais um caso de sucesso, há sempre quem faça ressuscitar o fantasma da eugenia. Países como a Itália ou Alemanha proíbem qualquer forma de aplicação de DGPI. (…)
Para o médico, é importante que a sociedade saiba exactamente o que está em causa. «Há muita desinformação, mas as pessoas devem confiar na comunidade científica.» Susana e Humberto confiaram. E jamais se arrependerão.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Sistemática dos seres vivos - Reinos da vida - Classificação de Whittaker

Evolução dos sistemas de classificação

Os sistemas de classificação podem ser entendidos como formas de organização de dados respeitantes aos seres vivos que se pretendem classificar. Esta organização depende de critérios que vão sendo revistos ao longo do tempo, o que torna transitórios os sistemas de classificação que reflectem a visão dos seus autores e da comunidade científica de dada altura.

Desde Aristóteles até meados do séc. XIX, os biólogos dividiram os seres vivos em dois reinos: Plantae e Animalia. Aristóteles considerou critérios como: unicelularidade ou pluricelularidade, fototrofismo, heterotrofismo, seres com ou sem locomoção. No entanto, esta classificação tinha algumas limitações como o facto das bactérias, euglenas e fungos estarem incluídos no Reino Plantae. Isto porque, há bactérias que não realizam fotossíntese; fungos que não são fotossintéticos e com parede celular de natureza não celulósica; e o facto das euglenas, apesar de fotossintéticas, terem locomoção como se vê no vídeo abaixo.

Com o avanço do microscópio, em 1866 o biólogo alemão Ernest Haeckel propôs um terceiro reino, o Reino Protista que incluía as bactérias, protozoários e fungos, cujas características não são nem de animais nem de vegetais.
Posteriormente, Herbert Copeland (1902-1968) introduziu um novo reino, o Reino Monera, considerando um novo critério: seres procariontes e eucariontes.
No entanto, a maioria dos biólogos, até meados do séc. XX, continuou a basear-se na classificação em dois reinos, ignorando as outras propostas.
Só na década de 60 do séc.XX, devido a conhecimentos obtidos por técnicas bioquímicas, e pela microscopia electrónica, a relação dos reinos dos seres vivos mudou, e em 1969 apareceu uma nova classificação dos seres vivos. O ecologista americano Robert H.Whittaker(foto) passou a incluir os seres vivos em cinco reinos, em que os fungos passam a constituir um reino independente, designado de Fungi. Este sistema de classificação era coerente, quer com o registo fóssil, quer com os dados moleculares mais recentes.

Sistema de classificação de Whittaker

Este sistema é o que tem encontrado maior receptividade. Desenvolvido em 1969, foi posteriormente modificado, sendo apresentado com essas alterações em 1979. A grande diferença entre estas duas versões refere-se à posição das algas. Inicialmente distribuídas entre os reinos Protista e Plantae, consoante fossem, respectivamente, unicelulares ou pluricelulares, foram colocadas no Reino Protista. No entanto, algumas algas são pluricelulares, apesar da sua simplicidade estrutural. O Reino Protista, por passar a incluir seres multicelulares de baixo grau de diferenciação celular leva muitos autores a sugerirem o nome de Protoctista para este reino.



São três os critérios em que se fundamenta a classificação em cinco reinos:
· Níveis de organização celular – considera o tipo de estrutura celular procariótica ou eucariótica, se há seres eucariontes unicelulares, coloniais ou multicelulares com baixo grau de diferenciação celular e seres multicelulares.
· Tipos de nutrição – processo de obtenção do alimento (autotrofismo, heterotrofismo por ingestão ou absorção).
· Interacções nos ecossistemas – distinguindo os seres produtores dos seres consumidores (macroconsumidores e microconsumidores que ao consumirem a matéria orgânica devolvem ao meio matéria inorgânica – decompositores ou saprófitas como fungos, bactérias, e alguns protistas).

O quadro seguinte refere as principais características dos cinco reinos do sistema de Whittaker modificado (1979).




Sistemas de classificação mais recentes

Sistemas de classificação posteriores vieram propor a criação de grupos superiores ao reino, designados por super-reinos ou domínios. Isto devido à comparação de novos dados, como os moleculares (sequências nucleotídicas, de genes ou de aminoácidos em proteínas), que inferem nas relações evolutivas.
A classificação em três domínios reconhece dois domínios incluindo organismos procariontes e apenas um domínio para os eucariontes. Ao Domínio Bacteria corresponde o Reino Eubacteria, ao Domínio Archaea corresponde o Reino Archaebacteria e ao domínio Eukarya correspondem os Reinos Protista, Fungi, Plantae e Animalia. Os protistas constituem um grupo muito diversificado, existindo sistematas que propõem a divisão deste grupo em vários reinos.
As sequências genéticas indicam que Archaea tem uma combinação de genes semelhantes a Bactéria e a Eukarya, estando mais relacionado com Eukarya do que com Bacteria.


Posso concluir que a classificação de organismos encontra-se num contínuo processo de mudança. É importante perceber que definir as categorias mais elevadas da classificação (domínios e reinos da vida) é um trabalho em progresso. Devemos, contudo, considerar os grupos taxonómicos e árvores filogenéticas "hipóteses" em que são usados dados disponíveis para traçar a árvore da vida.

Sistemática dos seres vivos - Hierarquia das categorias taxonómicas e Nomenclatura

Hierarquia das categorias taxonómicas

O sistema de classificação de Lineu, tanto para plantas como para animais, foi publicado na sua grande obra Systema Naturae (figura abaixo), em 1768. No sistema de classificação que desenvolveu, os seres vivos são agrupados em dois grandes reinos (plantas e animais) e ordenados numa série ascendente a partir da espécie em comum. Constituiu-se assim um sistema hierárquico de classificação.


Neste sistema as categorias taxonómicas designadas de níveis taxonómicos ou taxa (plural de taxon) encontram-se dispostos de forma hierárquica, o que torna evidente o grau de semelhança entre eles. A categoria básica deste sistema ou unidade de classificação biológica é a espécie, sendo a categoria com menor capacidade de inclusão, mas mais uniforme. A espécie é um grupo natural constituído pelo conjunto de indivíduos morfologicamente semelhantes, que partilham o mesmo fundo genético, podendo cruzar-se entre si originando descendência fértil. De acordo com o conceito biológico de espécie, este taxon é natural e é o único agrupamento taxonómico que existe na Natureza, sendo os outros todos fruto de esquemas conceptuais humanos.

O reino é a categoria mais abrangente, sendo por isso, a mais heterogénea. Entre estes dois extremos consideram-se o género, a família, a ordem, a classe e o filo (divisão nas plantas). Ao longo da hierarquia vai aumentando o número de organismos incluídos em cada nível, mas diminuindo o grau de parentesco entre eles. Os taxonomistas sentiram necessidade de uma classificação mais rigorosa dentro de determinados níveis, criando categorias intermédias, distinguindo-as com prefixos como super, sub e infra.

Quando consideramos dois seres vivos, eles são tanto mais próximos quanto maior for o número de taxa comuns a que pertencem, isto é, quanto mais restrito for o nível do taxon. Por exemplo nesta imagem o cão e o lobo estão evolutivamente mais próximos pois partilham o mesmo género e, consequentemente, todos os grupos superiores ao género.



Nomenclatura

Numa tentativa de universalizar os nomes atribuídos aos seres vivos, os cientistas procuraram criar uma nomenclatura internacional para a sua designação, estabelecendo regras para a atribuição de nomes científicos aos diferentes grupos taxonómicos.
A língua latina é a utilizada para escrever o nome dos organismos desde a Idade Média, pois é uma língua morta, não sujeita a evolução, mantendo o significado original das palavras.
Inicialmente, no séc. XVII, o botânico inglês John Ray desenvolveu um tipo de nomenclatura polinominal, pouco cómodo. Só mais tarde, através de trabalhos feitos por Lineu estabeleceu-se uma nomenclatura binominal, para designar as espécies, mais simples. As regras de nomenclatura estabelecidas por Lineu foram actualizadas pelas Comissões Internacionais de Nomenclatura.

Regras de nomenclatura binominal
· Cada espécie é designada sempre por duas palavras em latim: a primeira escrita com inicial maiúscula e correspondente ao nome do género ou nome genérico a que a espécie pertence; a segunda escrita com inicial minúscula, designando-se por restritivo especifico ou epíteto especifico, sendo apenas usada quando acompanhada do nome do género;
· A designação dos grupos superiores à espécie é uninominal, escrita com inicial maiúscula e podendo ser em latim ou na língua do utilizador;
· O nome da família obtém-se acrescentando a terminação idae à raiz do nome de um dos géneros desta família, no caso dos animais, ou acrescentando acea, no caso das plantas. Há, no entanto, excepções;
· Para designar uma subespécie, utiliza-se uma nomenclatura trinominal, seguindo-se ao nome da espécie o restritivo ou epíteto subespecífico. Por exemplo: Homo sapiens sapiens;
· Os nomes do género, espécie e subespécie são escritos em latim e normalmente em itálico. No caso dos manuscritos deverão ser sublinhados;
· À frente do nome da espécie deve escrever-se em letra de texto o nome ou a abreviatura do nome do taxonomista que, a partir de 1758, atribuiu o nome científico;
· Pode citar-se também a data da publicação do nome da espécie, sendo essa data colocada a seguir ao nome do autor, separada por uma vírgula.

Os nomes científicos permitem, então, que a Biologia tenha uma linguagem verdadeiramente universal.

Sistemática dos seres vivos - Sistemas de classificação

A Sistemática é a área do conhecimento biológico que se ocupa do estudo das relações evolutivas dos diferentes grupos de seres vivos ao longo do tempo e do agrupamento e classificação dos seres vivos. Tem como objectivo a criação de sistemas de classificação que não se limitem a agrupar os seres vivos actuais, mas que reflictam a evolução sofrida por esses grupos ao longo do tempo. O ramo da Sistemática que se ocupa da classificação dos seres vivos e da nomenclatura designa-se por Taxonomia.


Diversidade de critérios de classificação

Sistemas de classificações práticos
As primeiras classificações feitas pelo Homem tinham um carácter prático, que se ajustavam às necessidades específicas de quem as utilizava. Ainda hoje em dia distinguimos os animais domésticos dos animais selvagens, por exemplo. Estes sistemas são designados de sistemas de classificação práticos e, por vezes, carecem de base científica, sendo meros instrumentos de sistematização utilitária.

Sistemas de classificação racionais: Horizontais
Os sistemas que utilizam características morfológicas ou fisiológicas dos seres representam sistemas de classificação racionais, propostos pela primeira vez por Aristóteles (Grécia Antiga).

Estes podem dividir-se em sistemas de classificação artificiais, que se baseavam num reduzido número de características e que existiram desde a Grécia Antiga até ao séc. XVIII. Eram sistemas que formavam grupos muito heterogéneos, pois englobavam organismos que diferem em muitas outras características para além das consideradas. Estes sistemas de classificação artificiais caracterizaram o período pré-lineano das classificações.

Carlos Lineu (1707-1778) pretendia uma classificação que reflectisse relações e afinidades naturais entre os organismos. Apesar de fixista, este naturalista realizou um trabalho muito importante, classificando entre plantas e animais mais de 1400 espécies, no entanto, eram ainda classificações artificiais. Por todo o seu trabalho desenvolvido foi considerado o “pai da taxonomia”.

Com o avanço dos conhecimentos científicos e de novos métodos e instrumentos de observação, os conhecimentos sobre os seres vivos aumentaram exponencialmente, o que conduziu à utilização de um número maior de características no processo de classificação. A classificação passou a integrar um grande nº de dados e a exprimir uma maior afinidade entre os seres, passando a existir sistemas de classificação naturais, que caracterizam o período pós-linenao e pré-darwiniano.

Estas classificações, por não considerarem a evolução dos organismos nem o factor tempo que lhes está associado, são classificações horizontais (carácter estático). Estas também podem ser chamadas de fenéticas, pois são baseadas num grande número de semelhanças ou diferenças fenotípicas entre os organismos.

Sistemas de classificação racionais: verticais

Surgiram no período pós-darwiniano as classificações verticais ou filogenéticas, que consideram o factor tempo. Os seres vivos passaram a ser classificados não apenas de acordo com a sua afinidade estrutural e morfológica, mas também de acordo com a sua história evolutiva. Estudos como a paleontologia, comparação anatómica, Citologia, Bioquímica e Genética dos seres vivos têm contribuído para a identificação de ancestrais comuns, ajudando a esclarecer o percurso evolutivo dos grupos de seres vivos e as suas relações filogenéticas, ou de parentesco. Os fenómenos de convergência ou divergência evolutiva ao longo de uma escala de tempo são traduzidos por árvores filogenéticas, típicas da taxonomia evolutiva clássica. As classificações passaram e reflectir a dinâmica dos grupos ao longo do tempo, e não um carácter estático. Estas são, no entanto, consideradas classificações muito subjectivas, um vez que se baseiam nas interpretações de factos utilizando hipóteses sobre relações de parentesco para estabelecer filogenias, e assim poderá ser impossível chegar a novos consensos.

Para os autores dos sistemas de classificação horizontal, a semelhança estrutural resulta do “plano de criação”, enquanto para os evolucionistas, essa semelhança estrutural é consequência de relações de parentesco, porque os organismos descendem de um ancestral comum.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Neodarwinismo - Teoria sintética da evolução


Neodarwinismo – Teoria sintética da evolução

Foi a partir do Darwinismo que o evolucionismo se impôs no mundo científico. No entanto esta teoria apresentava pontos frágeis, nomeadamente porque Darwin não conseguiu explicar quais os mecanismos responsáveis pelas variações verificadas nas espécies, nem o modo como essas variações se transmitem de geração em geração.
No século XX, com o desenvolvimento dos conhecimentos de genética conseguiu-se reinterpretar a teoria da evolução de Darwin, sintetizando e correlacionando os diversos conhecimentos das áreas da genética, da citologia e da bioquímica. Dessa síntese nasceu então a teoria sintética da evolução ou neodarwinismo.
Esta teoria engloba duas ideias fundamentais:
variabilidade genética e selecção natural.

Variabilidade genética
A diversidade existente no mundo vivo tem como fonte a ocorrência de mutações e fenómenos de recombinação genética.

Mutações – as alterações bruscas do património genético podem ocorrer ao nível dos cromossomas (na disposição dos genes ou no número de cromossomas) ou genes (na sequência nucleotídica). Se essas alterações derem origem a características favoráveis nos indivíduos, constituem uma fonte de variabilidade genética primária.

Recombinação genética – Outra fonte de variabilidade genética que se obtém através da reprodução sexuada: ao nível da meiose (fenómeno de crossing-over, e separação aleatória dos cromossomas homólogos) e da fecundação (fusão aleatória dos gâmetas).

É principalmente a recombinação genética que cria a variabilidade, favorecendo o aparecimento de uma multiplicidade de diferentes combinações de genes.

Selecção natural e fundo genético
A selecção natural não actua sobre genes ou características genéticas de forma isolada, mas sim sobre a globalidade dos indivíduos de uma população com toda a sua carga genética, isto porque cada indivíduo não evolui isoladamente.


Há vários tipos de selecção natural: a direccional evidencia o processo de selecção natural mais frequente, neste caso com deslocação do ponto de ajuste para uma determinada característica; a disruptiva, em que são privilegiadas as formas extremas de um determinado carácter, desfavorecendo a forma intermédia, inicialmente mais comum; ou a estabilizadora, em que a forma mais comum é favorecida em relação aos restantes fenótipos sendo eliminadas, com o tempo, as formas mais afastadas do ponto de ajuste.
A unidade evolutiva é então a população (conjunto de indivíduos da mesma espécie que vive num determinado local e ao mesmo tempo), e quanto maior for a diversidade numa população maior é a probabilidade de ela se adaptar a mudanças que ocorram no meio, pois entre essa diversidade há indivíduos portadores de conjuntos génicos que sejam favorecidos pela selecção natural. Esses indivíduos reproduzem-se mais (reprodução diferencial) originando maior descendência, tornando mais frequente os seus genes.
As populações podem, assim, adquirir novos conjuntos de genes, alterando o seu fundo genético, evoluindo de uma forma lenta e gradual. Define-se fundo genético como o conjunto de todos os genes presentes numa população num dado momento.
O contrário acontece com as populações homogéneas.
Quando o meio se altera, o conjunto génico mais favorável pode deixar de o ser no novo ambiente.
Conclui-se assim que ao longo do tempo, determinados genes e, portanto, determinadas características acabam por se implantar nas populações em detrimento de outros, que vão sendo eliminados, dando-se assim a evolução.
Para concluir este tema relacionado com a evolução encontrei um vídeo interessante sobre a evolução das plantas!

Notícia - Nasceu a primeira bebé sem gene do cancro da mama e do útero

Selecção genética


Nasceu a primeira bebé sem gene do cancro da mama e do útero




Nasceu ontem, em Londres, o primeiro bebé geneticamente seleccionado para não desenvolver cancro.

A criança tinha entre 50 e 80 por cento de hipóteses de contrair cancro da mama e até 60% de probabilidades de ter cancro do útero. Doenças que afectaram grande parte da família do pai, devido à presença de um gene mutante, o BRCA1.

Os pais da criança consultaram médicos de fertilidade e acabaram por aceitar que a bebé fosse sujeita a uma selecção genética, que deverá impedir que a criança tenha cancro devido à mutação do gene.

Publicação: 10-01-2009 13:16 em sic.pt